Futsal Feminino e suas realidades na várzea de São Paulo

Resportagem especial mostra as principais dificuldades e preconceitos na modalidade

O futsal surgiu nos anos 30 no Uruguai e somente nos anos 80 começou a ter as primeiras competições femininas oficiais. A Seleção Brasileira de Futsal Feminino por exemplo se reuniu pela primeira vez em 2001 para o Desafio Internacional diante do Paraguai.

O público do Futsal Amador por exemplo é de 2,7% contra os 97,3% do masculino. Parte desses números são refletidos pela menor quantidade de competições e às vezes até mesmo pelo desinteresse dos próprios organizadores na divulgação dos eventos.

FUTSAL DE VÁRZEA

Assim como no masculino é uma modalidade que está presente no futsal de várzea há muito tempo, mas nem sempre as competições foram organizadas. As coisas começaram a mudar um pouco quando Ivan Téko, responsável pela LigaSP achou injusta a forma com que os campeonatos femininos eram realizados e em 2010, decidiu dar o mesmo tratamento e importância para todas as modalidades sendo ela masculina ou feminina.

No início o projeto contava com poucas equipes, mas todas de boa qualidade e organização, já as quadras, premiações e horários eram um pouco precários. Com o passar do tempo, ajuda e força de vontade das demais equipes participantes, a LigaSP tomou forma e pode trazer grandeza e igualdade para o futsal feminino. Atualmente a liga feminina é realizada em sua quadra sede, a Arena LigaSP Sports situada no Itaim Paulista.

A equipe que mais vezes conquistou LigaSP foi a C&C Futsal Feminino, fundado em 2013 por amigas que já jogavam juntas algum tempo e quiseram se reunir para disputar campeonatos. A primeira competição de várzea que o time disputou foi justamente a Copa Paulista da LigaSP. De desconhecidas e iniciantes a equipe C&C chegou até a final, porém, perderam para o ROMP, um dos times favoritos na época.

Em 2015 enfim a equipe foi campeã da Copa Paulista, receita que deu certo e em 2016 a equipe se tornou bicampeã da Copa. De 2016 em diante elas se tornaram a equipe que todos queriam ganhar, o time contava com boas atletas, algumas até que já haviam sido profissionais.

Por conta da pandemia e pela segurança das atletas o time decidiu dar uma pausa nas atividades, e assim estão desde o fim 2019. Mas segundo uma das atletas Thalita Porfirio, a esperança do time é de que em 2022 elas possam estar novamente nas competições, zelando por sua camisa e conquistando mais títulos novamente.

PRECONCEITOS

Outro fator enraizado que ainda não conseguimos mudar, são os preconceitos que ainda existem como nos conta atleta Yasmim: “Uma vez durante o treino da minha atual equipe um senhor me convidou para participarmos do time feminino que ele estava montando, o trabalho seria baseado no de um time dos EUA e para participarmos teríamos que usar roupas curtas e justas, para meio que mostrar a coxa. Infelizmente o futsal feminino ainda é muito sexualizado”.

De fato existem muitos preconceitos relacionados à sexualidade e também voltados ao gênero com mulheres que jogam a modalidade. Quando perguntamos sobre as maiores dificuldades em relação à prática, a maioria respondeu: “O preconceito e a falta de incentivo”.

Além dos preconceitos que estão em maior evidência, existem outros que acontecem quando o assunto é a parte administrativa como por exemplo alugar uma quadra. Poucas pessoas têm esse conhecimento, mas a grande maioria das quadras dificilmente cedem seus horários principais a modalidade feminina, por vezes as equipes ficam com os horários remanescentes e por conta disso boa parte das equipes treinam e realizam seus jogos em quadras públicas.

Além das quadras, uma outra questão administrativa que chama bastante atenção na categoria é o desinteresse dos técnicos e presidentes responsáveis pelas equipes. Muitos deles deixam as tarefas de marcar jogos, confirmar presença, recolher uniformes dentre outras responsabilidades com a capitã da equipe, ao invés do próprio realizar. Esse descaso é um dos principais, presentes em boa parte dos times fazendo com que os mesmos acabem jogando com menos frequência e até mesmo sejam extintos.

DIFICULDADES

Um dos problemas mais frequentes no futsal feminino é a verba para a participação de copas e festivais, diferente de equipes masculinas, as femininas precisam dividir entre si os custos da participação, arbitragem e por vezes até mesmo a confecção de seus uniformes. Como nos contou Renata Pocaia, presidente do Viracopos Futsal Feminino.

A equipe que hoje além de contar com a craque Raquel Freestyle, também é muito conhecida por serem quase sempre uma das favoritas a títulos nas grandes Copas femininas da várzea. A presidente conta que a equipe começou a disputar copas e festivais em 2019 e que inicialmente os valores eram divididos entre os atletas.

Já em 2020, os custos foram divididos entre a presidente e um amigo que acabou se tornando um patrocinador do time. Hoje em dia o caixa do time conta com rifas, ajuda de amigos que se tornam patrocinadores e com a verba disponibilizada pela própria presidente.

“Uma dica que dou para todas as equipes femininas é sempre fazer parcerias com amigos que sejam donos de lojas ou algum comércio para tentar gerar lucro para equipe e assim financiar copas, festivais e até mesmo uniformes”, nos contou Renata.

E assim funciona em outras equipes, algumas também contam com ajuda de algum patrocinador, mas a grande maioria infelizmente só pode contar apenas com investimentos e força de vontade das atletas em participar das competições.

Essa matéria teve o intuito de mostrar uma realidade que muitos não conhecem. Nossa esperança é de que em um futuro breve o futsal feminino esteja na vitrine do futsal de várzea com o mesmo brilho e prestígio do masculino, com investimentos e grandes copas realizadas.

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